terça-feira, 21 de março de 2017

O curioso caso da igreja de Cosmos

    Durante séculos, o Brasil foi vinculado à igreja católica em várias esferas (políticas, econômicas, sociais) ecoando até os dias atuais. Assim, a história de nosso país possui vários capítulos ligados à igreja de Roma. No Rio de Janeiro existem várias igrejas com histórias importantes, algumas com séculos de idade, que fizeram parte de capítulos importantes dentro da construção do Brasil e de nossa memória.
    Praticamente todo carioca conhece ou já ouviu falar na Igreja da Penha, com seus 382 degraus, localizada no alto da cidade, propiciando uma visão de 360º do Rio. Porém, poucos já devem ter ouvido falar na homônima menos famosa, a Igreja de Nossa Senhora da Penha, no bairro de Cosmos, vizinho ao bairro de Campo Grande, numa região que poderia ser considerada como a "Grande Campo Grande", na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A Penha menos famosa possui uma semelhança com a mais conhecida, pois esta também se localiza no alto de um morro. Porém, o que mais chama a atenção na igreja de Cosmos é o fato de, durante muito tempo, o templo ter se apresentado em ruínas, abandonado, em total procedimento de deterioração. Devido à curiosidade em saber o porquê do estado daquela igreja no alto de um morro e praticamente isolada, surgiram algumas versões que tentaram explicar o motivo do abandono da igreja e de sua história.


Fotos. Fonte: Face um coração suburbano

    Uma das versões, contada por um membro da igreja, afirma que no século passado, as pessoas frequentavam as missas lá em cima, e que com o passar do tempo, após o falecimento do padre, os próprios membros faziam celebrações entre eles. Entretanto, os fundadores foram ficando com idade avançada, com pouca saúde, e não conseguiam mais subir até o local para assistir as celebrações. Além disso, alguns faleceram, não houve renovação de fiéis e com o passar do tempo a igreja foi alvo de vandalismo, ficou abandonada e se deteriorando.
    Porém, há uma outra versão mais macabra, em que conta que um padre responsável foi morto e enterrado no terreno da igreja, e que logo após foi incendiada. Com o passar do tempo ficou abandonada, pois fica no alto de um morro e assim, difícil para os mais idosos chegarem até lá.
    Todavia, a versão oficial da igreja é que consta que no ano de 1917, quando nessa região cultivava-se alguns produtos agrícolas e uma diversificada criação de animais, uma imagem de Nossa Senhora da Penha foi encontrada por dois trabalhadores rurais, filhos de escravos de nomes de Francelina e Adão, ao pé de um coqueiro existente na fazenda do Senhor Délio Guaraná de Barros, bem no alto (cerca de 400 metros) do morro. A imagem foi levada para um casebre de Francelina e Adão, distante do local uns 300 metros. Com o passar dos dias, a imagem, de forma inexplicável, desapareceu do casebre. Os dois procuraram em vão. Logo depois voltaram ao morro onde haviam encontrado a imagem. Para surpresa, a imagem estava lá. Espantados, comunicaram o fato ao dono da terra, que não deu muita importância. Os irmãos tornaram a levar a imagem para casa. Dias depois, outro desaparecimento. Certos de que a encontrariam de novo no alto do morro, foram em direção ao cume e lá estava ela de novo. Então, o senhor Guaraná resolveu levar a imagem para a igreja do Campinho. Dias depois a imagem sumiu, reaparecendo ao pé do coqueiro existente no monte.
    No local foi construída, provisoriamente, uma capela na qual introduziu a imagem de Nossa Senhora da Penha. Com o decorrer do tempo e diante de tantos milagres, foi doado o terreno e no local, erguida a igreja. Em fevereiro de 1972, a imagem foi saqueada e a igreja destruída por vândalos que frequentavam o local para a prática de jogos proibidos, consumo de bebidas alcoólicas e entorpecentes.
    Entretanto, no ano de 2015, a igreja começou  uma fase de restauração do templo e de seu entorno. Membros da igreja contam que durante escavações feitas no terreno, foram encontradas algumas importantes peças, que estavam enterradas, relacionadas às missas que eram celebradas antes da destruição. Abaixo fotos da igreja em sua fase atual, depois de iniciada a restauração.
    O processo de resgate da igreja do morro de Cosmos ainda está em andamento, com celebrações, encontros, entre outros eventos, com a perspectiva de cada vez mais resgatar aquela que já foi um dia conhecida apenas como ruínas, "as ruínas da igreja de Cosmos".
    Abaixo, uma visão panorâmica da Zona Oeste do Rio de Janeiro à frente da Igreja da Penha de Cosmos.

    Na fase de revitalização, a igreja recebe uma iluminação à noite, em seu entorno, que pode ser vista a uma grande distância, inclusive de outros bairros. As imagens abaixo são de um ângulo visto de Campo Grande, numa distância considerável da igreja. Obs: A igreja é o ponto iluminado mais ao alto.

Colaboração para o artigo: Felipe Cardoso.

terça-feira, 14 de março de 2017

É dia de feira

    As feiras livres existem desde a antiguidade, quando estas tinham o objetivo de promover trocas de mercadorias entre as pessoas. A partir do século XI, com o impulso do comércio, estimulado pelo aumento da população, da produção agrícola e das atividades artesanais, mercadores do norte e do sul da Europa atravessavam o continente, com o objetivo de negociar seus produtos nas feiras, que duravam de três a seis semanas, onde negociavam-se mercadorias de todo tipo.
  Imagem representando as feiras antigas. Fonte: História em documentos / imagem e texto

     As mais famosas aconteciam na região de Champagne, na França atual. As feiras já eram realizadas nas cidades, destacando-se grandes feiras internacionais, como em Lyon, na França, Piacenza, na Itália e Medina del Campo, na Espanha. Esta última durava cinquenta dias, reunindo cerca de 2.500 mercadores.     Porém, foi com o advento do capitalismo que esse tipo de comércio conquistou importância econômica.
    Integrante da cultura brasileira, as feiras mantém-se até os dias atuais, mesmo com o desenvolvimento do comércio, com o conforto das compras pela internet, entre outras características do mundo moderno. Possuindo suas peculiaridades, as feiras são palco de circulação de pessoas de todos os tipos, com um variado comércio, que vai de pequenos utensílios, passando por frutas, legumes, peças diversas, entre outros.
    No bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, tem um exemplo de uma feira que já existiu dentro do atual mercado São Braz, no calçadão do bairro. O hoje diversificado "Mercadão" atuava como uma feira, escoando os produtos agrícolas cultivados na região e de outros locais. Porém, devido ao crescimento da área, o mesmo firmou-se como um pioneiro no que diz respeito ao comércio de Campo Grande, perdendo a característica de uma feira tradicional.
    Entretanto, Campo Grande, através de sua história, sempre apresentou outras feiras pelos seus sub-bairros, como a que ocorria na localidade de Vila Nova, tradicionalmente às quintas-feiras. Também destaca-se a feira da Rua Campo Maior, na Avenida Mariana, às terças-feiras.
    Na atualidade, pode-se afirmar que a feira mais conhecida e frequentada do bairro é a que se apresenta aos domingos, nas imediações do Viaduto Alim Pedro, chegando à Estrada do Campinho e à Rua Campo Grande. Atuando como uma feira livre tradicional, esta proporciona aos seus transeuntes todo o tipo de mercadoria, inclusive sendo chamada por alguns de seus vendedores de "shopping ao ar livre".
    Esta feira, antes de se apresentar na atual área já citada, ocorria na Rua Campo Grande; mais tarde se "mudou" para ruas próximas ao Colégio Sarah Kubistchek, até chegar ao ponto de hoje.

Bibliografia utilizada: Rodrigue, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto/Joelza Ester Rodrigue.
São Paulo: FTD, 2001.