quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Trens e bondes em Campo Grande


Campo Grande é o bairro mais populoso do município do Rio de Janeiro, com aproximadamente 350.000 habitantes (IBGE/2010). Pode-se afirmar que o começo do crescimento populacional do bairro está atrelado à implantação, em 1878, de uma estação da Estrada de ferro D. Pedro II em Campo Grande. O primeiro trecho dessa estrada de ferro foi inaugurado em 1858, ligando a freguesia de Santana a Queimados (atual município da Baixada Fluminense). Vinte anos depois chega a Campo Grande, impulsionando o crescimento populacional do bairro, ligando-o ao restante da cidade. Assim, o transporte ferroviário acabou auxiliando na transformação desta região tipicamente rural em urbana, ao facilitar o acesso até o centro da cidade.
Em 1894, com a concessão cedida à empresa particular Companhia de Carris Urbanus para explorar a linha de bondes à tração animal, surgiu a possibilidade das localidades mais distantes serem alcançadas, facilitando o desenvolvimento urbano interno. A linha de bonde puxado a burro entre Campo Grande e Santa Clara foi inaugurada em 1898. Com os trens e os bondes, Campo Grande passou a ter acesso a pontos distantes do Rio de Janeiro. O bonde de Campo Grande foi uma das últimas linhas a sair de operação, em 1967. A partir de 1915, os bondes à tração animal foram substituídos pelos elétricos, permitindo maior mobilidade e integração entre os núcleos semi-urbanos já formados. A Companhia de Bondes Elétricos de Campo Grande e Guaratiba passou a operar em 17 de maio de 1917.
Abaixo, duas fotos  da Avenida Cesário de Melo do mesmo ponto, em épocas diferentes:
Década de 1960, com o bonde
Século XXI, com carros e ônibus

Tombada pelo IPHAN, a antiga Usina de Bondes localiza-se exatamente no entroncamento entre a estrada do Mato Alto e a estrada do Magarça, no largo do Monteiro. Alvo de discussão, por ficar no caminho de um projeto de duplicação da estrada do Mato Alto, a Usina permanece por ser patrimônio tombado.

A Usina de Bondes de Campo Grande em épocas diferentes: A primeira, século XXI; a segunda, década de 1960.

Até a construção das estradas de rodagem, os bondes serviram na produção agropecuária de Campo Grande e áreas adjacentes. Após isso, o serviço ficou reduzido a passageiros e pequenas cargas que não eram aceitas nos ônibus. Mesmo assim, em maior número, os ônibus não anularam os bondes, já que, ainda em 1962, os bondes de Campo Grande transportavam aproximadamente meio milhão de pessoas. 
Com o fim dos bondes em Campo Grande, no ano de 1967, restaram algumas marcas de trilhos pelo bairro durante décadas seguintes, apagadas com o tempo e pelo progresso na região, ditado pela urbanização em andamento na área.




sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande

Durante os períodos colonial e imperial do Brasil, o país possuiu uma subdivisão denominada freguesia. Nesse período, a igreja católica era a religião oficial do Brasil. Assim, em resumo, freguesia correspondia a um local com uma paróquia e áreas adjacentes, ou, freguesia = paróquia. A criação de uma freguesia era "a prova material da existência de um núcleo populacional de certa importância". (Revista IHGB, vol. 288, p. 194). Não fugindo à regra, o bairro de Campo Grande teve sua origem vinculada a uma criação de freguesia: a freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande.
Atualmente localizada no centro do bairro, em uma pequena elevação, a igreja matriz de Nossa Senhora do Desterro teve sua origem como capela em 1673, nas atuais terras de Bangu, nas propriedades de Barcelos Domingos, por iniciativa do padre Francisco da Silveira Dias. No século XVIII, foi oficializada a Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande em 12 de janeiro de 1755 (alguns historiadores apontam 1757). O atual templo, em estilo barroco colonial brasileiro, ficou pronto em 1808.
Em 1882, a igreja foi destruída por um incêndio, sobrando pouco mais que as paredes. Graças aos esforços do padre Belisário dos Santos (1821 - 1891), com seus recursos e com a ajuda dos fazendeiros, autoridades e outras pessoas de Campo Grande, ela foi reconstruída. Segundo Fróes e Gelabert (2004: 97-98) "foram chamados os bombeiros da Corte e organizado um trem especial pra trazê-los. Este levou 40 minutos para chegar em Campo Grande, vindo da estação D. Pedro II. Após o desembarque do material, não houve como fazê-lo chegar a tempo à matriz, posto que os carros (puxados por animais) ficaram presos no areal existente na Rua da Matriz, depois da estação, hoje, Rua Augusto de Vasconcelos". Detalhe: atualmente, por ironia do destino, encontra-se um Corpo de Bombeiros bem próximo da paróquia. Padre Belisário foi nomeado vigário de Campo Grande, onde permaneceu de 1846 a 1891.
No período de desativação da matriz, as atividades da paróquia foram realizadas na igreja de Santo Antônio em Juary, na atual Avenida Cesário de Melo. Depois de seu falecimento, o vigário Belisário dos Santos foi enterrado no cemitério que se situava em frente à matriz, hoje pertencente à prefeitura do Rio de Janeiro. 
Tratando-se de um símbolo histórico importantíssimo do bairro, a igreja de Nossa Senhora do Desterro desperta interesse de preservação por parte da população local. A partir do ano 2000, a igreja e seu entorno (a praça Dom João Esberard) sofreram modificações, como restauração do telhado, novo jardim e iluminação, entre outras intervenções, com o objetivo de manter vivo um dos grandes símbolos da história do bairro.

domingo, 17 de janeiro de 2016

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O império da laranja

Durante a primeira metade do século XX, o bairro de Campo Grande, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, foi conhecido como uma área de grande produção de laranja. Na medida em que a produção cafeeira foi-se reduzindo no Rio de Janeiro e no Brasil, a citricultura começou a destacar-se, tendo Campo Grande, até meados da década de 1940, o rótulo de um dos principais centros de laranjas, sendo o solo da área um dos grandes permissores do desenvolvimento da citricultura.
Nesse período, as laranjas passavam por um processo até que fossem exportadas, no qual tinha a Inglaterra como principal importadora. Devido ao fato de as laranjas passarem por todo um processo de escolha, além de serem embaladas cuidadosamente com um papel finlandês, os locais de produção das laranjas eram chamados de fábricas, chegando a empregar 300 pessoas. 
Com o apelido de "citrolândia", Campo Grande observava os laranjais se desenvolverem pela Serra do Mendanha até a divisa com o município de Nova Iguaçu. Nesse período, o bairro destacava-se como um considerável mercado de trabalho para rapazes e moças, com uma exportação, em determinada época, chegando a 140.000 toneladas do produto por ano.
Porém, devido à falta de mercado provocada pela Segunda Guerra Mundial, um tratamento inadequado do solo e uma praga que pairou sobre os laranjais, o chamado período da laranja em Campo Grande chegava ao fim, com as fazendas sendo vendidas, e o bairro começando a mudar a sua estrutura a partir deste fato.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Incêndio no Mercado São Braz

Um dos fatos que impulsionou a atividade comercial em Campo Grande, contribuindo muito para o desenvolvimento econômico do bairro, foi o surgimento do Mercado São Braz, no atual Calçadão de Campo Grande, centro econômico do bairro. Inaugurado em 1963, o Mercadão atuava como uma feira, recebendo produtos agrícolas de algumas regiões de Campo Grande. Com o passar do tempo, o Mercadão foi adquirindo um caráter mais comercial, abrigando lojas de diversos ramos.
No dia 28 de outubro de 2011, ocorreu um incêndio de grandes proporções que atingiu o Supermercado Multimarket e o Mercado São Braz, na Rua Augusto Vasconcelos. O Mercadão teve mais da metade dos 60 boxes destruídos. Alguns animais que eram vendidos no local não conseguiram ser salvos. Devido ao fato dos lojistas fecharem as portas dos boxes por causa do incêndio, o fogo se alastrou, provocando dificuldades, por parte do Corpo de Bombeiros, em controlá-lo.
Uma curiosidade é que, no meio de tanta destruição, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida permaneceu praticamente intacta, após o incêndio. Aos pés da santa, um cartaz informa: "A única imagem que sobrou do incêndio".
Depois de cinco meses e dez dias fechado, o tradicional Mercadão do Calçadão de Campo Grande foi reaberto, com o espaço recuperado em uma parceria dos lojistas com a prefeitura. O dinheiro público foi para a infraestrutura e os lojistas reformaram seus estandes.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Um FLA-FLU em Campo Grande

Em 1992, ocorreu um fato inusitado no campeonato carioca de futebol daquele ano, e também no bairro de Campo Grande. Devido ao fato do Maracanã ter ficado interditado, após acidente ocorrido durante a final do campeonato brasileiro do mesmo ano, entre Flamengo e Botafogo, ficara decidido que os clássicos do carioca de 1992 seriam disputados em São Januário, que na época comportava um público em torno de 40.000. Mas nem todos aconteceram no estádio do Vasco da Gama. Um deles que não ocorreu foi o Fla-Flu do segundo turno da competição, que acabou sendo disputado no estádio Ítalo Del Cima, do Campo Grande Atlético Clube, localizado na rua Artur Rios, no bairro de Campo Grande. O jogo, disputado no dia 22 de novembro de 1992, foi vencido pelo Fluminense, pelo placar de 1x0. Além do gol  marcado pelo artilheiro Ézio, o jogo teve 5 bolas na trave: 4 acertadas pelo Fluminense e 1 pelo Flamengo. O clássico, que é considerado um dos mais importantes do mundo, não empolgou a população da Zona Oeste, atraindo um público de apenas 3.672 pessoas.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

"Fantasmas" de Campo Grande: memórias do bairro

MEMÓRIAS DO BAIRRO
Nas últimas décadas, o bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro vem passando por mudanças consideráveis em vários aspectos, como o aumento do número de circulação de automóveis, ocasionando trânsito; construções das mais diversas, sendo habitacionais ou comerciais; aumento do número de estacionamentos, entre outras. Nesse contexto, algumas referências do bairro viraram "fantasmas" na memória dos habitantes de Campo Grande, como observaremos a seguir:

SILBENE
A papelaria Silbene, em seus 52 anos de existência, foi uma tradicional loja do bairro, que anunciou seu fechamento em 2012. Com entrada pelo Calçadão de Campo Grande e saída pela Augusto Vasconcelos, a loja tinha cerca de 200 funcionários e comercializava artigos de papelaria, informática, brinquedos, relógios, artigos para festas, livros, lanches, fotos e outros.

LUSO-BRASILEIRO TÊNIS CLUBE
O Luso-Brasileiro foi fundado em 28 de outubro de 1959, por um grupo de amigos portugueses e brasileiros, que compraram uma área de 54.000 m2 na Estrada do Campinho, com o objetivo principal de se reunirem com seus familiares e amigos, para se divertirem e trocar ideias. Uma das festas mais tradicionais que o clube organizava era o Luso City, criado em 1985. O clube fechou as portas em 2013.



COLÉGIO BELISÁRIO DOS SANTOS
O colégio, que localizava-se na Rua Augusto Vasconcelos, em frente à Paróquia Nossa Senhora do Desterro, fechou suas portas em 2012. Atualmente, encontra-se um estacionamento no local (uma das marcas atuais do bairro). O Colégio carregava o nome do Vigário do bairro no século XIX (de 1847 a 1891), e que morou na casa ao lado da igreja; mais tarde abrigaria o colégio. O Vigário Belisário dos Santos foi um dos grandes responsáveis por reconstruir a Paróquia Nossa Senhora do Desterro, destruída por um incêndio no século XIX.

Imagens retiradas da Internet.